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À segunda é de vez (espero).
#23
Vivemos a nevrose da dúvida. O desalento português tem a progénie numa flagelante desconfiança de nós próprios. O que nos conduz a ser apáticos ou agressivos. As fontes medievais da nossa literatura falam de violência e de melancolia.

A ciclotimia que cunha o modo de ser português e que, afinal, celebra o fado e a pega de caras. Vieira induziu que nos sobrava mar e faltava terra e acentuou a debilidade de um corpo social que raramente soube fazer mais do que mercadejar e emigrar. As Descobertas ilustram a tese e justificam a história.

Devo dizer que há muito que a noção de fronteira foi podada. A liturgia do patriotismo tinha sido seriamente sacudida pelo liberalismo. No século XIX, os intelectuais defendiam (confusamente embora) uma espécie de «internacionalismo», que rasgasse os horizontes fechados do nosso provincianismo misantropo. Foram derrotados. E todos eles desistiram, abandonando o terreno. «Isto dá vontade de morrer!», exclamou Herculano. E foi-se para o azeite. O patriotismo regressou com o Ultimato inglês. A agit-prop republicana demonstrou a sua eficácia. Desmorona-se a Monarquia, e a República tentou reabilitar «o orgulho de ser português». Com o advento do salazarismo retorna o fervor: o passado como bandeira, a Igreja como apoio, a história absolutamente acrítica. O que mais tarde veio a contribuir para a criação do Salazossauro.

Morria-se pela pátria. Ou, pelo menos, incutiam-nos essa ideia absurda. A última monstruosa burla foi a guerra colonial, feita em «nome da pátria e das suas fronteiras, de Minho a Timor». Regressados aos limites europeus, deveríamos ter descoberto Portugal. Nada disso. O nosso cometimento, logo após Abril, foi zangarmo-nos com toda a gente e ressentirmo-nos com nós próprios. Não só uma questão de ideologia: antes, um problema de estarmos de mal connosco.

Com o facto de Vieira não ter sido presidente de Portugal aquando de sua candidatura perdeu-se uma oportunidade de se dilucidar esse empreendimento essencialmente dessincrónico que se chama Portugal. Vieira ainda procurou desenvolver o que designou de «a nova definição de Portugal». Não o deixaram. O conflito perpétuo, e aparentemente insolúvel, entre a catadupa de palavras e o esclarecimento sensato das coisas, foi, de novo, uma evidência. O critério de abordagem baseava-se neste paradoxo inquietante: como é que se pode pedir que sejamos felizes, se estamos à beira da ingovernabilidade? - segundo afirmam, graves, gélidos e temíveis, os sábios da SEDES.

O comprimento das sílabas dos nossos «políticos» adquire dimensões escabrosas. Há uma relação incestuosa entre o que prometem e o que fazem. Nos últimos vinte e cinco anos têm destruído, sistematicamente, o sistema produtivo, espezinhado o que restava de esperança, e praticado uma sórdida acção de nepotismo e de omissões. A indecência não conhece limites. A frase «vamos ter tempos muito difíceis» transformou-se no lugar-comum da nossa desistência insultuosa. Ao deixar-se de criticar um sistema iníquo, cuja defesa está entregue a centuriões estipendiados por falsos patrícios, confiou-se o nosso destino à rosa-dos-ventos.

A menos que Vieira seja presidente as próximas eleições não vão resolver coisíssima nenhuma.

«O voto é a arma do povo», dizia um célebre estribilho político. «Se votas, ficas sem arma», replicavam os anarquistas. Que fazer?

A única alternativa é VOTAR VIEIRA, QUE SÓ DESISTE SE FOR ELEITO.
There's no stoppin' what can't be stopped, no killin' what can't be killed. You can't see the eyes of the demon, until him come callin'...
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À segunda é de vez (espero). - by Rufferto - 11-07-2005, 22:09
[No subject] - by Kanzentai - 12-07-2005, 00:59
[No subject] - by Cobaia - 13-07-2005, 14:01
[No subject] - by Rufferto - 13-07-2005, 16:28
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[No subject] - by Kanzentai - 14-07-2005, 15:03
Assuntos sérios - by Khorazyn - 15-07-2005, 03:43
[No subject] - by Kanzentai - 15-07-2005, 10:35
Re: Assuntos sérios - by Rufferto - 15-07-2005, 12:41
Assuntos sérios - by Khorazyn - 17-07-2005, 05:46
[No subject] - by Rufferto - 17-07-2005, 08:14
[No subject] - by Kanzentai - 17-07-2005, 11:44
Salazossauro - by Khorazyn - 23-07-2005, 08:42
Um candidato Catita - by Khorazyn - 31-07-2005, 07:13
Re: Um candidato Catita - by Rufferto - 01-08-2005, 10:34
SÓ DESISTE SE FOR ELEITO - by Khorazyn - 02-08-2005, 00:04
Re: SÓ DESISTE SE FOR ELEITO - by Rufferto - 02-08-2005, 11:24
O FUNDAMENTALISMO OCIDENTAL - by Khorazyn - 03-08-2005, 01:11
[No subject] - by Rufferto - 03-08-2005, 09:11
O Elo Perdido - by Khorazyn - 04-08-2005, 10:27
Inquérito da Focus ao Vieira - by Rufferto - 31-08-2005, 23:38
[No subject] - by Kanzentai - 01-09-2005, 20:06

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